ALOCUÇÃO DE

SUA EXCELÊNCIA O PRIMEIRO-MINISTRO

 KAY RALA XANANA GUSMÃO

POR OCASIÃO DA SESSÃO SOLENE DE HOMENAGEM À MEMÓRIA DE SUA SANTIDADE O PAPA FRANCISCO 

Parlamento Nacional, Díli, Timor-Leste

25 de abril de 2025

Suas Excelências

Senhora Presidente do Parlamento Nacional

Vice-Presidentes do Parlamento Nacional

Ilustres

Senhoras e Senhores Deputados

Senhoras e Senhores Membros do Governo

Ilustres Convidados

Senhoras e Senhores

Povo de Timor-Leste,

Nada deste mundo nos é indiferente”…

Nada deste mundo nos é indiferente”! Escreveu assim Sua Santidade o Papa Francisco numa das suas encíclicas, a Laudato Si´.

Entre tantos exemplos de humanismo, fraternidade e generosidade com que o Santo Padre nos abençoou durante o seu Pontificado, escolho este exemplo porque representa, a meu ver, a autenticidade e, ao mesmo tempo, a grandiosidade de Sua Santidade

Neste mundo de indiferença global, Sua Santidade o Papa Francisco soube apelar para um mundo mais pacífico e justo, um mundo mais solidário e fraterno, onde todos somos verdadeiramente irmãos e amados, independentemente da nossa nacionalidade, cor, género, convicções políticas ou religiosas e, ainda, percursos de vida.

Onde todos somos acolhidos para a redenção e onde todos temos um lugar nesta família humana, a que a Igreja Católica chama filhos de Deus.

O Santo Padre teve a simplicidade de acolher, nas suas preces e reflexões, todos os seres humanos e todos os bens e elementos naturais, para o bem-estar das pessoas e do planeta.

Mas, o Santo Padre, teve também a grandiosidade de, com coragem e sabedoria, elevar o sentido de esperança na humanidade de que é possível construir um mundo melhor, onde “Todos, Todos, Todos” somos dignos de participar.

Uma coisa é certa, ninguém, católicos ou não católicos, ficou indiferente à bondade do Papa Francisco. Ninguém ficou indiferente ao seu legado de compaixão, de fé e liderança moral.

Por isso este momento é, para todos nós, um momento de luto e de dor. Mas é também um momento para refletir sobre o impacto das palavras e da vida do Santo Padre, lembrando-o com ternura, como o próprio pediu, e dando sentido ao seu legado, através das nossas próprias ações e orações.

É uma oportunidade para cada um de nós continuar o caminho iniciado pelo Santo Papa pela busca incessante pela paz, justiça, tolerância, e fraternidade de todos e para todos, tal como ensina o Evangelho e a vida e missão de Jesus Cristo.

E comecei por mencionar o Laudato Si’, não só pela sua abrangência e inovação, o que, aliás, marcou o pontificado de Sua Santidade, mas pela atualidade e urgência dos ensinamentos, neste mundo conturbado e instável, tais como a necessidade de cuidar e respeitar o meio ambiente e as pessoas, para um futuro mais próspero e sustentável, inspirando-nos a todos a cuidar da nossa Casa Comum.

Mas também porque me parece uma obra de referência e inspiração para todos os políticos que, tal como nós, Membros do Parlamento e do Governo, se comprometeram com políticas públicas mais eficazes, mais transparentes, mais contínuas e vocacionadas para o bem-estar do nosso povo, aplicando-se assim o conceito de ecologia integral à vida política.

Quero ainda mencionar outro legado extraordinário do nosso querido Santo Padre, a Declaração da Fraternidade Humana, em coautoria com o Grande Imã de Al-Azhar Cairo, assinado em 2019, por ocasião da visita de Sua Santidade à Península Árabe, a qual salienta a importância da cooperação e diálogo entre religiões e culturas.

Timor-Leste endossa a união e os valores de paz, também entre religiões, tão importantes para sanar a violência e a guerra que flagelam o mundo e, como tal, não posso deixar de lembrar o gesto magnífico deste Parlamento Nacional em adotar por unanimidade esta Declaração, dando assim um exemplo ao mundo do compromisso timorense com a fraternidade e a paz.

Que no próximo Dia Internacional da Fraternidade Humana, celebrado a 4 de fevereiro de cada ano, mas também em todos os dias da nossa vida, possamos ter presente nas nossas orações e ações esta necessidade de construção de um mundo mais harmonioso, mais justo e solidário, homenageando assim, em teoria e em prática, Sua Santidade o Papa Francisco.

Suas Excelências

Senhoras e Senhores

Povo de Timor-Leste,

Nesta sessão solene de homenagem à memória de Sua Santidade o Papa Francisco, quero novamente expressar as minhas mais sentidas condolências ao Colégio dos Cardeais, à Igreja Católica e a todos os seus fiéis, bem como a todos os que, mesmo não sendo católicos, sentem esta perda imensa deste nosso Avô querido, que partiu para a sua vida eterna para descansar em paz.

Acredito que nós timorenses, de alguma forma, sentimo-nos reconfortados com a visita de Sua Santidade o Papa Francisco a Díli, no passado mês de setembro. Foi uma grande alegria e uma grande inspiração para o nosso povo e, muito particularmente, para os nossos jovens.

Acredito que a memória e os ensinamentos de Sua Santidade irão continuar a inspirar-nos e que os nossos pensamentos e ações serão guiados pela esperança e o amor, não só neste momento de pesar, mas para sempre.

Sejamos todos inspirados e guiados pela “excelência do cuidado pelo que é frágil e por uma ecologia integral, vivida com alegria e autenticidade”, vivendo com “simplicidade e numa maravilhosa harmonia com Deus, com os outros, com a natureza e consigo mesmo”, tal como São Francisco de Assis e, tal como, o Papa Francisco.

Muito obrigado.

Kay Rala Xanana Gusmão